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Câncer de Mama Hereditário e o papel dos genes BRCA1 e BRCA2

O Câncer de Mama é o tipo de câncer mais comum e a principal causa de morte por câncer na mulher em todo o mundo. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se que 73.610 novos casos de câncer de mama sejam registrados até 2025, com uma taxa de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres, e que a doença cause 18 mil mortes. Embora rara, a doença também pode acometer homens, representando cerca de 1% dos casos.


Mulheres com alterações patogênicas no BRCA possuem um risco de desenvolvimento de câncer de Mama e Ovário, ao longo da vida de 45% to 75% e 18% to 40%, respectivamente.


Todos os tipos de câncer se desenvolvem a partir de mutações que ocorrem em determinados genes, entretanto, nem todas são herdadas através de material genético familiar.


Estudos com diversas famílias concluíram que existe um risco aumentado para o desenvolvimento de determinados tumores entre parentes de primeiro grau (pais e irmãos) e também de segundo grau (avós, tios e sobrinhos). Esses indivíduos  possuem uma susceptibilidade maior para câncer devido a uma ou mais mutações estarem presentes nas células germinativas dos seus familiares.

Falando especificamente do câncer da mama, já que este é o mais prevalente entre as mulheres, sabe-se que entre 5 a 10% dos casos estão associados com genes que são passados hereditariamente. Destes, 90% ocorrem são devido a falhas em genes específicos, os chamados  BRCA1 e BRCA2.


Diferentes alterações genéticas podem levar a esta maior predisposição, sendo as alterações presentes no os genes BRCA 1 (Breast Cancer gene 1) e BRCA2 (Breast Cancer gene 2) as de maior correlação com a doença.


Os genes BRCA1 e BRCA 2 desempenham um papel essencial na reparação do DNA, como protetores. Eles atuam como supressores de tumores, ajudando a manter a estabilidade genética das células e evitando que erros se acumulem durante a divisão celular. Quando há mutações (variantes) nesses genes, este papel de correção pode ficar perdido, e o risco de desenvolver alguns tipos de câncer aumenta, especialmente o câncer de mama e ovário.


Como esses genes se relacionam com o câncer de mama hereditário?


Pessoas que herdam mutações patogênicas em um desses genes têm uma probabilidade significativamente maior de desenvolver câncer de mama. Enquanto o câncer de mama pode ocorrer espontaneamente em qualquer pessoa, as mutações no BRCA1 e BRCA2 aumentam o risco, além de antecipar a idade média de diagnóstico, devido a perda da ação de reparo gênico que eles exercem.


Estima-se que as variantes (mutações) nesses genes estejam presentes em 5% a 10% dos casos de câncer de mama. A presença da variante não garante o desenvolvimento da doença, mas eleva o risco em até cerca de 75% ao longo da vida, dependendo do tipo de alteração e sua classificação.


Quem deve fazer o teste genético?


O teste genético para BRCA1 e BRCA2 é indicado para pessoas com histórico familiar ou pessoal sugestivo de predisposição hereditária ao câncer, como:


  • 2 tumores de mama, sendo o primeiro com 50 anos ou menos

  • Com ≤ 50 anos e 1 ou mais parentes com história de tumor de mama, pâncreas ou próstata

  • Tumor de mama do subtipo: Triplo negativo com ≤ 60 anos

  • Em qualquer idade quando há algum familiar diagnosticado com tumor de mama com ≤ 50 anos

  • Em qualquer idade quando há 2 ou mais parentes com tumor de mama

  • Presença de 1 ou mais parentes próximos com história de neoplasia de ovário

  • Presença de 2 ou mais parentes próximos com câncer de pâncreas ou próstata

  • História de câncer de mama em paciente familiar do sexo masculino


Como é realizado o teste genético?


O teste é realizado a partir de uma amostra de sangue ou saliva e busca identificar a presença de variantes. O aconselhamento genético é essencial antes e depois do teste, para interpretar os resultados de forma correta e entender as opções de conduta.


A metodologia utilizada é denominada NGS (Next Generation Sequencing), Sequenciamento de Nova Geração. É realizada a extração do DNA das células do paciente e, então, um sequenciamento genético massivo é realizado. Após esta etapa, os dados do sequenciamento são analisados por meio de ferramentas de bioinformática e comparados a banco de dados. Uma revisão de literatura médico-científica é, então, realizada para compreender e interpretar as variantes detectadas. O laudo é liberado com revisão de especialistas sobre as eventuais alterações encontradas.


Quais são as principais opções de conduta para pessoas com mutações nos genes BRCA?


Pacientes com variantes patogênicas identificadas devem passar por consulta com especialistas, e estes podem optar por medidas preventivas e de monitoramento para reduzir os riscos. Entre as opções, sempre com orientação de um médico especialista, estão:


1. Acompanhamento intensivo:

• Ressonância magnética e mamografia anuais a partir de uma idade precoce.

• Exames de ultrassom transvaginal e dosagem de CA-125 para rastrear o câncer de ovário.


2. Cirurgias preventivas:

• Mastectomia profilática: Remoção cirúrgica do tecido mamário para reduzir o risco em até 95%.

• Ooforectomia profilática: Remoção dos ovários e das trompas de Falópio, reduzindo o risco de câncer de ovário e câncer de mama relacionado a hormônios.

3. Quimioprevenção:

• Medicamentos como tamoxifeno ou inibidores da aromatase podem ser usados para diminuir o risco em pessoas predispostas.


O diagnóstico de uma mutação genética pode ter impacto emocional significativo. Além do medo do câncer, muitas pessoas enfrentam dilemas ao considerar medidas preventivas radicais, como mastectomia ou ooforectomia. Apoio psicológico e aconselhamento são essenciais para ajudar essas pessoas a tomar decisões informadas e equilibradas.


Compreender o papel dos genes BRCA1 e BRCA2 e realizar testes genéticos em populações de risco são passos fundamentais para reduzir a mortalidade associada ao câncer hereditário. Decisões preventivas, quando bem orientadas, podem salvar vidas e oferecer uma melhor qualidade de vida às pessoas que convivem com essa predisposição.


Os genes BRCA1 e BRCA2 são de extrema importância no manejo do câncer de mama hereditário. Embora o diagnóstico de uma mutação genética possa ser desafiador, as opções de prevenção e tratamento permitem que muitas pessoas reduzam significativamente os riscos e vivam com mais segurança. Investir na conscientização e em programas de rastreamento é essencial para proteger as próximas gerações e oferecer uma chance real de prevenir o desenvolvimento da doença.


Se você ou alguém da sua família apresenta histórico relevante de câncer de mama ou ovário, converse com um profissional de saúde para avaliar a necessidade de um teste genético e orientação adequada. A prevenção é o melhor caminho para cuidar da saúde!


Artigo elaborado por Dr. Gustavo Campana

 
 
 

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